TDAH e o Direito ao BPC: Como Garantir o Benefício

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica que afeta muitas pessoas, comumente manifestando-se em crianças, mas também podendo persistir na vida adulta. Caracteriza-se por sintomas como dificuldades de concentração, impulsividade e hiperatividade, afetando a capacidade de organização e o controle das atividades cotidianas. Quando o TDAH se torna grave, pode comprometer a capacidade de trabalhar e realizar tarefas diárias, o que pode levar à necessidade de apoio financeiro, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS).

Este artigo visa esclarecer se as pessoas com TDAH têm direito ao BPC, explicando como o transtorno pode impactar a vida do paciente, os requisitos para a concessão do benefício e o procedimento para solicitação do auxílio junto ao INSS.

O que é o BPC-LOAS e quais os requisitos para solicitação

O Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) é uma assistência financeira paga pelo INSS a pessoas com deficiência ou idosos em situação de vulnerabilidade social. Diferentemente de outros benefícios previdenciários, como aposentadoria ou auxílio-doença, o BPC não exige contribuições prévias à seguridade social, sendo destinado a quem possui uma renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo.

Para acessar o BPC, o solicitante deve comprovar que é portador de uma deficiência que o torne incapaz de prover seu próprio sustento e de participar de forma plena na sociedade. A condição de deficiência pode ser física, mental, intelectual ou sensorial e, no caso do TDAH, deve ser demonstrado o quanto o transtorno limita as atividades diárias do indivíduo.

TDAH é considerado uma deficiência para efeitos de BPC?

Embora o TDAH seja frequentemente tratado como um transtorno mental que afeta a atenção e o comportamento, muitos se perguntam se ele pode ser classificado como deficiência para efeitos de concessão do BPC-LOAS. A resposta depende do impacto que a condição tem sobre a vida do indivíduo. Para ser considerado uma deficiência, o TDAH deve causar limitações significativas nas atividades cotidianas, como o trabalho, o estudo e a interação social.

O que caracteriza a deficiência no contexto do BPC-LOAS é a dificuldade permanente para realizar tarefas e se integrar à sociedade de maneira autônoma, e não a simples presença do transtorno. Em muitos casos, o TDAH pode ser considerado uma deficiência, desde que as dificuldades associadas à falta de concentração, impulsividade e desorganização interfiram de forma substancial na capacidade do indivíduo de trabalhar ou de viver de forma independente.

Como o TDAH afeta a vida do solicitante

O impacto do TDAH na vida de uma pessoa pode variar consideravelmente. Contudo, há algumas áreas-chave que podem ser afetadas de maneira significativa:

  • Capacidade de trabalhar: Indivíduos com TDAH podem enfrentar dificuldades consideráveis no ambiente de trabalho devido à falta de concentração, problemas com organização e impulsividade. Essas limitações podem resultar em incapacidade para realizar tarefas exigidas pelo emprego, especialmente em funções que exigem foco constante, como administrar prazos ou concluir atividades complexas.
  • Desempenho educacional: No caso de crianças e jovens, o TDAH pode comprometer o desempenho escolar, afetando a concentração, a capacidade de seguir instruções e a organização. Isso pode gerar um ciclo de baixo rendimento e, posteriormente, dificuldades profissionais na vida adulta.
  • Interações sociais: A impulsividade e a dificuldade em controlar os impulsos podem prejudicar a habilidade de se relacionar com outras pessoas, criando dificuldades sociais, familiares e até mesmo no ambiente de trabalho.

Portanto, quando o TDAH é grave e compromete significativamente essas áreas da vida do indivíduo, pode-se considerar que ele se enquadra como uma deficiência, o que justifica a solicitação do BPC-LOAS.

Como solicitar o BPC-LOAS para quem tem TDAH

O processo de solicitação do BPC-LOAS para portadores de TDAH envolve alguns passos que devem ser seguidos de forma organizada. O primeiro passo é a coleta de documentos médicos que comprovem a condição e o impacto que ela tem sobre a vida do solicitante.

Laudo médico especializado

O laudo de um médico especialista, como um psiquiatra ou psicólogo, é essencial para comprovar a presença do TDAH e como ele afeta a capacidade de trabalho e as atividades cotidianas. O médico deve descrever as limitações geradas pelo transtorno e sua interferência no funcionamento social e profissional do paciente.

Comprovação da renda familiar

Para ter direito ao BPC, é necessário comprovar que a renda familiar per capita é inferior a um quarto do salário mínimo. O solicitante deverá apresentar documentos como comprovantes de renda, extratos bancários e declarações de impostos de renda que demonstrem a condição financeira da família.

Solicitação ao INSS

Com os documentos médicos e a comprovação de renda, o solicitante deve agendar a solicitação do BPC-LOAS junto ao INSS. Isso pode ser feito através do site do INSS ou nas agências de atendimento presencial. Após a solicitação, o INSS irá avaliar a documentação e poderá solicitar uma perícia social para entender melhor as condições de vida do solicitante.

O que ocorre durante a perícia social

A perícia social é realizada por um assistente social, que irá avaliar as condições de vida do solicitante, levando em conta a gravidade da deficiência e a situação socioeconômica. O assistente social analisará a documentação fornecida e poderá realizar entrevistas com o solicitante e com seus familiares para entender como o TDAH impacta a vida diária e se a pessoa é, de fato, incapaz de se sustentar de forma independente.

O que fazer se o pedido for negado

Caso o pedido de BPC-LOAS seja negado, o solicitante tem o direito de recorrer da decisão. O primeiro passo é interpor um recurso administrativo junto ao INSS, onde será realizada uma nova análise do caso. Caso o recurso seja indeferido, a pessoa pode ajuizar uma ação judicial para garantir o direito ao benefício. Nesse caso, contar com a assessoria de um advogado especializado em direito previdenciário é fundamental, pois ele pode ajudar a estruturar a argumentação jurídica para obter a concessão do benefício.

Conclusão

O TDAH pode ser considerado uma deficiência para fins de concessão do BPC-LOAS, desde que se comprove que a condição impacta substancialmente a vida do indivíduo, prejudicando suas atividades cotidianas e a capacidade de trabalho. A solicitação do benefício envolve a coleta de documentos médicos e a comprovação de vulnerabilidade social, com a avaliação de um assistente social do INSS.

Embora o processo para obtenção do BPC seja detalhado, com a documentação adequada e a orientação jurídica correta, as pessoas com TDAH têm o direito de garantir a assistência necessária para viver com mais dignidade. O apoio jurídico especializado pode ser crucial para garantir que os direitos do solicitante sejam devidamente reconhecidos e respeitados.

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Gustavo Saraiva

É empreendedor digital, investidor e cofundador do Doutor Multas, sócio do Âmbito Jurídico e sócio da Evah. É colunista do UOL, JUS, Icarros e escreve para dezenas de portais, revistas e jornais.

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