Golpe da portabilidade de empréstimo consignado: como reconhecer, evitar e agir legalmente

O golpe da portabilidade de empréstimo consignado vem se tornando cada vez mais comum e afeta, principalmente, aposentados e pensionistas no Brasil. Esse golpe ocorre quando fraudadores se passam por representantes de bancos ou instituições financeiras e induzem o consumidor a transferir seu empréstimo para outra instituição sob falsas promessas de melhores condições, mas, na realidade, sem que ele compreenda totalmente o impacto da operação. Este artigo explora como reconhecer e evitar o golpe, além de explicar os direitos legais do consumidor para buscar justiça caso seja vítima dessa fraude.

Como ocorre o golpe da portabilidade de empréstimo consignado

A portabilidade de consignado é uma operação legítima que permite ao consumidor transferir seu contrato de um banco para outro, buscando condições mais favoráveis. Contudo, golpistas utilizam essa possibilidade para aplicar fraudes, fazendo o consumidor acreditar que está mudando de banco para obter vantagens, quando, na verdade, ele está firmando um novo contrato com condições piores.

Normalmente, os golpistas entram em contato por telefone ou mensagem, se identificando como funcionários de instituições financeiras. Eles prometem “reajustes” ou “reduções” nas parcelas, alegando que a operação trará benefícios. No entanto, o consumidor, sem saber, acaba contratando um novo empréstimo e aumentando sua dívida em vez de reduzi-la. Ao final, a vítima se vê com uma dívida muito maior do que a inicial e frequentemente com mais dificuldades para quitá-la.

Métodos usados pelos fraudadores

Os golpistas empregam várias táticas para convencer a vítima a realizar a portabilidade. Entre as práticas mais comuns estão:

  • Oferecer taxas de juros supostamente menores, sem explicar que isso envolve a contratação de um novo empréstimo;
  • Pressionar a pessoa a tomar uma decisão rápida, impedindo que ela tenha tempo de analisar a proposta;
  • Fornecer informações enganosas sobre reduções nas parcelas, enquanto o valor total da dívida é, na verdade, aumentado;
  • Pedir dados pessoais e bancários com o pretexto de fazer uma “análise de crédito” ou “atualização de cadastro.”

Essas práticas são fraudulentas e aproveitam-se da vulnerabilidade e da confiança dos consumidores.

Consequências para as vítimas do golpe

As consequências desse golpe vão além dos prejuízos financeiros, afetando também a saúde mental das vítimas. Em termos financeiros, o golpe eleva o valor da dívida, muitas vezes comprometendo uma grande parte da renda mensal do consumidor. Isso afeta especialmente aposentados e pensionistas, que dependem de um rendimento fixo para cobrir suas despesas.

Além disso, a situação causa estresse e ansiedade, especialmente para aqueles que percebem o golpe tardiamente e se veem com uma dívida muito maior do que a inicialmente planejada. Resolver o problema também pode ser desgastante e frustrante, uma vez que as instituições financeiras nem sempre estão dispostas a cooperar rapidamente.

Dicas para se proteger contra o golpe

Para evitar cair no golpe da portabilidade de consignado, é importante adotar alguns cuidados ao lidar com propostas financeiras. Abaixo estão algumas orientações úteis:

  • Suspeite de abordagens por telefone ou mensagem que oferecem “reduções” nas parcelas sem explicação clara;
  • Nunca forneça dados pessoais, bancários ou fotos de documentos sem ter certeza da segurança da operação;
  • Entre em contato diretamente com o banco onde possui o empréstimo antes de autorizar qualquer alteração ou portabilidade;
  • Leia com atenção todos os documentos antes de assinar ou enviar, certificando-se de que compreende todas as cláusulas;
  • Desconfie de propostas que prometem vantagens muito superiores às condições de mercado e de orientações que exigem pressa para serem aceitas.

Essas práticas ajudam a reduzir os riscos de fraude, permitindo que o consumidor lide com propostas de forma consciente e segura.

Direitos do consumidor e ações em caso de golpe

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) oferece proteção contra práticas abusivas e fraudulentas. Caso a vítima perceba que caiu em um golpe, é possível buscar a anulação do contrato, a restituição dos valores pagos e uma indenização por danos causados pela fraude.

O primeiro passo para quem identifica que foi vítima de fraude é contatar a instituição financeira envolvida e relatar o problema. Em alguns casos, o banco pode ajudar a resolver o problema. No entanto, se a instituição não oferecer uma solução, o consumidor pode buscar auxílio de órgãos de defesa do consumidor e até ingressar com uma ação judicial.

Formalização da denúncia e queixas em órgãos de proteção

Registrar um boletim de ocorrência é uma medida importante para oficializar o caso de fraude. Esse documento poderá ser utilizado em processos judiciais e serve como uma prova oficial do golpe.

Além disso, o consumidor pode registrar a reclamação junto ao Banco Central, que supervisiona as atividades das instituições financeiras no Brasil. Outras alternativas incluem formalizar a queixa em órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, e também na plataforma “Consumidor.gov.br”, onde o consumidor pode buscar uma solução diretamente com a empresa.

Ação judicial para cancelar o contrato e buscar ressarcimento

Caso o problema não seja resolvido amigavelmente, o consumidor tem o direito de buscar a Justiça. Com o auxílio de um advogado, a vítima pode solicitar:

  • O cancelamento do contrato firmado fraudulentamente;
  • A restituição dos valores pagos indevidamente, com as devidas correções;
  • Uma indenização por danos morais, em casos de estresse, ansiedade ou prejuízos significativos causados pela fraude.

Para que a ação judicial tenha sucesso, é importante apresentar documentos que comprovem o golpe, como o boletim de ocorrência, mensagens e registros de comunicação com os fraudadores.

Indenização por danos morais e materiais

Além de solicitar o cancelamento do contrato, a vítima do golpe tem direito a indenização por danos materiais, que incluem os prejuízos financeiros sofridos, e por danos morais, devido ao desgaste emocional e psicológico causado pela situação.

O valor da indenização depende da análise do juiz, que considera o impacto do golpe sobre a vida financeira e emocional da vítima. A indenização visa reparar o prejuízo causado e também serve como uma forma de dissuadir práticas semelhantes.

Importância do apoio jurídico

A orientação de um advogado especializado em direito do consumidor pode ser essencial para que a vítima do golpe entenda seus direitos e as melhores medidas a serem adotadas. O advogado poderá ajudar a reunir as provas necessárias e conduzir a ação para cancelar o contrato e obter ressarcimento.

Além disso, o apoio jurídico permite que a vítima tenha mais segurança e rapidez no processo, garantindo que seus direitos sejam preservados e que a fraude seja devidamente combatida.

Considerações finais sobre o golpe da portabilidade de consignado

O golpe da portabilidade de consignado representa uma prática que atinge muitos consumidores no Brasil, principalmente os mais vulneráveis, como aposentados e pensionistas. Reconhecer as táticas utilizadas pelos fraudadores, adotar cuidados preventivos e buscar soluções imediatas ao identificar o golpe são passos fundamentais para proteger-se dessa fraude.

Caso o consumidor seja vítima, é importante agir rapidamente para cancelar o contrato e buscar amparo legal, se necessário. Dessa forma, é possível reverter a situação e garantir que o consumidor não seja responsabilizado por uma dívida decorrente de uma prática fraudulenta.

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Gustavo Saraiva

É empreendedor digital, investidor e cofundador do Doutor Multas, sócio do Âmbito Jurídico e sócio da Evah. É colunista do UOL, JUS, Icarros e escreve para dezenas de portais, revistas e jornais.

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