Indenização em acidentes com animais: como funciona a responsabilidade

Acidentes envolvendo animais podem resultar em prejuízos materiais, lesões físicas e até traumas emocionais para as vítimas. Situações como ataques de cães, acidentes de trânsito com animais na pista e até danos causados por animais domésticos ou de criação são relativamente comuns e levantam a questão sobre quem é responsável por esses incidentes e quem deve arcar com a indenização. Este artigo explica o que diz a legislação brasileira sobre responsabilidade e indenização em casos de acidentes com animais, abordando diferentes situações e os direitos das vítimas.

Responsabilidade civil do dono do animal

No Brasil, a responsabilidade civil do dono do animal é regida pelo Código Civil, que estabelece que o proprietário é responsável pelos danos que seu animal cause a terceiros. Segundo o artigo 936 do Código Civil, “o dono ou detentor do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”. Isso significa que o dono é, em regra, responsável pelos danos provocados pelo animal, independentemente de haver ou não culpa.

A responsabilidade objetiva imposta ao dono ou detentor do animal implica que ele deverá indenizar o terceiro prejudicado, mesmo que tenha agido com todos os cuidados necessários para evitar o dano. Em outras palavras, é suficiente que o dano tenha sido causado pelo animal para que o proprietário responda por ele, salvo em algumas exceções, como culpa exclusiva da vítima ou casos de força maior.

Culpa exclusiva da vítima e casos de força maior

Apesar da responsabilidade objetiva, existem situações em que o dono do animal pode não ser responsabilizado. A culpa exclusiva da vítima ocorre quando ela age de forma a provocar o acidente, como em casos em que invade a propriedade onde o animal está sob proteção ou instiga o animal a atacar. Nesses casos, o dono pode argumentar que não teve responsabilidade sobre o ocorrido, transferindo a responsabilidade para a própria vítima.

Outro caso de exclusão de responsabilidade é a força maior, que se refere a eventos imprevisíveis e inevitáveis, como desastres naturais. Por exemplo, se um animal fugir do controle do dono em meio a um incêndio ou tempestade e causar danos a terceiros, a situação de força maior pode ser uma justificativa para afastar a responsabilidade do proprietário.

Animais soltos em rodovias e acidentes de trânsito

Acidentes com animais soltos em rodovias são particularmente graves, pois podem causar danos materiais e lesões físicas aos motoristas e passageiros. Em casos onde há um acidente por conta de um animal na pista, a responsabilidade pode recair sobre o dono do animal, a administração pública, ou ambos, dependendo da situação específica.

Quando o proprietário do animal é conhecido, ele pode ser responsabilizado pela presença do animal na via, pois, de acordo com a legislação, é dever do dono manter o controle sobre seu animal para evitar situações de risco. No entanto, se o acidente ocorre em uma área de rodovia onde há negligência do poder público em realizar a fiscalização e manutenção de cercas e sinalizações adequadas, a administração pública também pode ser responsabilizada, especialmente em casos de animais de grande porte.

Em muitos casos, a indenização envolve tanto os danos materiais ao veículo quanto a compensação por lesões físicas e morais sofridas pelas vítimas do acidente.

Ataque de cães e animais domésticos

Os acidentes causados por ataques de cães ou outros animais domésticos são frequentes, e a responsabilidade pela indenização é geralmente atribuída ao dono do animal. A legislação impõe ao proprietário o dever de vigilância e cuidado, de modo a evitar que o animal ataque outras pessoas ou cause danos ao patrimônio de terceiros.

Em caso de ataque, a vítima tem o direito de solicitar uma indenização por danos materiais, que inclui custos médicos, tratamento psicológico, e outros gastos decorrentes do incidente. Além disso, é possível pleitear uma indenização por danos morais e estéticos, caso o ataque deixe marcas visíveis ou cause traumas emocionais. O valor da indenização depende da gravidade do ataque e das consequências sofridas pela vítima.

Para evitar problemas, os donos de cães de raças consideradas mais agressivas, como pit bulls e rottweilers, devem seguir normativas locais, como o uso de focinheira e guia em locais públicos. O descumprimento dessas normas pode ser considerado negligência e agravar a responsabilidade do dono em caso de ataque.

Animais de grande porte e propriedades rurais

Em áreas rurais, é comum a criação de animais de grande porte, como cavalos, bois e búfalos, que também podem ser envolvidos em acidentes. Quando um animal de grande porte causa um acidente em uma área pública, o dono do animal é responsável por garantir a segurança, como a manutenção de cercas e outros dispositivos que impeçam a fuga do animal.

Se o acidente for causado por negligência do proprietário, como falhas na manutenção da cerca, ele poderá ser responsabilizado civilmente pelos danos materiais, físicos e morais decorrentes do acidente. Em algumas regiões, há regulamentações específicas para propriedades que criam animais de grande porte, exigindo que o dono tome medidas extras de segurança. Em caso de descumprimento dessas normas, a responsabilidade do proprietário aumenta.

Procedimentos para solicitar indenização por acidentes com animais

Quando uma pessoa sofre um acidente causado por um animal e deseja buscar indenização, é importante que ela siga alguns passos para fortalecer o pedido. Primeiro, é fundamental reunir provas, como fotos do local do acidente, do animal envolvido, dos danos causados e, se possível, depoimentos de testemunhas. Laudos médicos e relatórios de danos materiais também são essenciais para comprovar a extensão do prejuízo.

A vítima deve registrar o caso, que pode envolver boletim de ocorrência em delegacia local e, em acidentes graves, até um processo judicial. Durante o processo, o juiz considerará as provas apresentadas, a dinâmica do acidente e as condições em que ocorreu para decidir sobre a responsabilidade do dono do animal e o valor da indenização.

Importância de conhecer as normas locais e as responsabilidades do proprietário

Cada município pode ter suas próprias normas para a circulação e posse de animais, especialmente em áreas urbanas. Os proprietários devem se informar sobre as exigências locais, como o uso de coleiras, cercas adequadas e normas para transporte de animais. O cumprimento dessas exigências não isenta o dono de responsabilidade, mas pode ajudar a demonstrar que ele tomou medidas preventivas.

A legislação brasileira é clara ao responsabilizar o proprietário do animal em casos de acidentes, mas as condições específicas do acidente, como a ação da vítima e o cumprimento de normas de segurança, também influenciam o julgamento.

Considerações finais sobre indenização em acidentes com animais

Os acidentes causados por animais podem ter consequências sérias para as vítimas e gerar altos custos para os proprietários. A legislação impõe ao dono do animal a responsabilidade pelos danos causados, cabendo a ele manter a segurança de terceiros, quer seja em áreas urbanas, rurais ou rodovias.

Para as vítimas, é importante entender seus direitos e buscar orientação jurídica para garantir que a indenização seja justa e cobre todos os danos sofridos. O apoio de um advogado pode auxiliar tanto na coleta de provas quanto no processo judicial para assegurar que o responsável seja devidamente acionado. Ao mesmo tempo, o cumprimento de normas de segurança e responsabilidade por parte dos proprietários é essencial para prevenir acidentes e proteger todos os envolvidos.

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Gustavo Saraiva

É empreendedor digital, investidor e cofundador do Doutor Multas, sócio do Âmbito Jurídico e sócio da Evah. É colunista do UOL, JUS, Icarros e escreve para dezenas de portais, revistas e jornais.

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